terça-feira, 10 de março de 2009

50 anos de Redenção

Jornal A Tarde, Caderno 2. 07/03/09.

Redenção 50 anos

JOÃO CARLOS SAMPAIO
jcsampaio@grupoatarde.com.br

O primeiro longa-metragem produzido na Bahia por uma equipe de cineastas baianos, o filme Redenção (1959), completa 50 anos de sua exibição inaugural nesta segunda-feira. Dia memorável para a classe cinematográfica baiana e especialmente para a família de seu diretor, o pioneiro cineasta Roberto Pires (1934-2001). Só que o filme continua ameaçado de extinção, já que a única cópia aguarda recursos para ser recuperada.

O cineasta Petrus Pires, filho do cineasta, há quatro anos luta para reverter o processo de deterioração que a histórica película vem sofrendo. Dado como definitivamente perdido, o filme foi reencontrado em abril de 2005, no acervo particular do Instituto Lula Cardoso Ayres, em Recife. Por lá foi encontrada esta única cópia da obra, uma versão em 16 mm (bitola semiprofissional), que foi trazida a Salvador.

Durante alguns meses, a cópia foi mantida em condições apenas razoáveis de conservação na sede da Diretoria de Audiovisual da Fundação Cultural do Estado (Dimas), nos Barris, até que Petrus Pires conseguiu recursos para levar o filme até a Cinemateca Brasileira, em São Paulo. Por lá, a cópia foi examinada e tem sido conservada em boas condições de temperatura e umidade, à espera da recuperação definitiva.

Petrus se diz feliz com a lembrança dos 50 anos do filme de seu pai, mas está ainda aflito com o risco de que essa parte fundamental da memória cinematográfica da Bahia se perca. Ele lembra que as condições de manutenção da cópia, mesmo na Cinemateca Brasileira, são ideais para filmes em bom estado, o que não é o caso desta cópia de Redenção, bastante danificada pelo tempo.

Ao lado de Braga Neto, ator protagonista de Redenção e outro pioneiro do cinema baiano, e juntamente com o também cineasta Paulo Hermida, Petrus fundou uma empresa com o mesmo nome da qual seu pai foi um dos fundadores, a Iglu Filmes. A nova Iglu aguarda para as próximas semanas a condição de três anos de (re)criada para finalmente se habilitar segundo as regras do Fundo de Cultura do Governo do Estado.

Cumprida a inscrição, o projeto de restauro e difusão da obra, orçado em cerca de R$ 650 mil, vai esperar pelos trâmites burocráticos para que, em até 90 dias, possa ser avaliado por técnicos do governo do Estado. A previsão mais otimista é de que somente no segundo semestre seja iniciada a recuperação. Até que isso aconteça paira no ar o receio de que algo aconteça à cópia. “Qualquer acidente, perdemos de vez este filme”, diz Petrus Pires.

EXIBIÇÃO – Quando da primeira revisão da cópia, há quatro anos, em São Paulo, foi feita uma precária telecinagem, que vai ganhar uma exibição no próximo dia 24, no Espaço Unibanco Glauber Rocha, como parte das atividades do V Panorama Coisa de Cinema, que começa no dia 19.

A sessão, nas palavras do próprio Petrus Pires, é um ato simbólico, apoiado pelo exibidor Cláudio Marques (do Glauber Rocha), para chamar a atenção quanto à necessidade da urgente recuperação do filme. A projeção tem também um caráter afetivo-histórico, já que foi no mesmo lugar onde hoje funciona o Unibanco Glauber Rocha que o filme foi lançado há 50 anos, quando o espaço se chamava Cine Guarany.

O projeto prevê um restauro digital em alta definição com a geração de uma nova cópia negativa e mais três cópias em 35 mm, uma para o acervo da Cinemateca Brasileira e duas para a difusão.

DVDs também seriam confeccionados.

Também durante o V Panorama será lançado o livro Rober to Pires – O Inventor de Cinema, do jornalista Aléxis Góis. A obra conta a trajetória do cineasta, que, ao lado de Oscar Santana, Braga Neto, Glauber Rocha e outros pioneiros, estabeleceu a primeira leva de filmes baianos, na virada para os anos 1960.

Para não deixar a data dos 50 anos de Redenção passar em branco, o Cineclube Roberto Pires do Espaço Cultural Raul Seixas (Av. Sete de Setembro, Mercês) exibe, a partir das 18 horas de segunda-feira, um programa com o filme Tocaia no Asfalto, também de Roberto Pires, antecedido de um curta-metragem, Artesão dos Sonhos, perfil do cineasta, dirigido pelo filho Petrus Pires e Paulo Hermida.

LENDÁRIO –Redenção é uma fita de pouco mais de 50 minutos, mas é um marco para o cinema baiano e brasileiro. O filme começou a ser rodado em 1955, no mesmo ano em que Nelson Pereira dos Santos lançou Rio 40 Graus, considerado o marco inicial do Cinema Novo.

Primeiro filme do chamado Ciclo Baiano de Cinema (1959-1964), Redenção foi capitaneado por Roberto Pires com apoio de Rex Schindler, Braga Neto (também ator do filme) e Oscar Santana trabalhando lado a lado na criação. Este mesmo grupo criaria obras como B arravento, de Glauber Rocha, e quase todas as realizações do chamado Ciclo Baiano, todos eles se revezando nas funções de produção, roteiro, fotografia e outros setores.

Redenção tem a particularidade de ser o primeiro filme brasileiro a utilizar o formato de tela esticada, conhecido como Cinemascope.

Na verdade, a fita foi rodada com uma lente criada em Salvador, nos fundos da Casa Mozart, loja da família Pires, que mantinha serviços de ótica. Lá, Roberto Pires, com a ajuda do amigo e cineasta Oscar Santana, criaria a Igluscope, a famosa lente da Iglu Filmes que reproduz uma técnica que somente Hollywood possuía.

2 comentários:

  1. Salve o cinema baiano!!!!!!
    Fantástico!

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  2. João Carlos, sou neto de Alfredo Tuvo dos Santos Neto ( Fred Junior), ator de Redenção. Gostaria de manter contato com vc para tentar pegar uma cópia do filme, se possível.
    Aguardo seu contato: pimenta.ucsal@gmail.com

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